terça-feira, 30 de março de 2010

Ocaso

a falta de bom senso

a insensatez

a súmula de um fac-símile factual

estética a seguir

dialeto que vem antes

hedonismo a flor da pele

cocaína no nariz

a vida pra se viver

pra esquecer os seus dilemas

tornar os seus desejos

a solução dos seus problemas

....

quarta-feira, 24 de março de 2010

Ser grande?

Ao tentar ser grande, e por ter sido sempre tão ínfimo, o vivente decai em sua angústia.
Como ser grande? É a questão que lhe pertuba.
Porém, o que o vivente não se dá conta - e, claro, ele não é mais do que uma vítima de um círculo de seus semelhantes - é que a pergunta que deveria incomodá-lo é: Por que tento ser grande?
A resposta para essa questão ele tem na ponta de sua língua. Contudo, essa resposta é aquela que fizeram-no crer estar certa.
Não. Ele não precisa ser grande então?
Bem, quem sou eu para responder?
Sou aquele que vê, observa e nada faz.
Sou os olhos críticos da sociedade, ou simplesmente a consciência do nada.
Você não conseguirá ser grande, é a minha conclusão.
Tristeza?
Escrúpulo?
O mundo caga em você e você caga nele. Por que deveria ser diferente?
Pois é.

O Coração do Amigo

Então, meu amigo, sobre você também pairou a lenda do amor? Percebo em seu sorriso e na sua fala ondas de luz e de som que parecem ter a força necessária para mover o mundo sem o auxílio de uma alavanca. Em verdade, amar, em si, é a alavanca que soergue o peso das dores e assoreia o maior dos temores: deixar-se amar; envolver-se na delicadeza e fragilidade da ferida exposta; por à prova o ego; esvaziar o peito, inflar a alma e perder a calma. Fico contente de ver suceder-lhe o que há de melhor: a surpresa inacreditável. Quando acreditávamos que a porta do paraíso fechara-se abrupta e brutalmente para todo o sempre, eis que, de novo, estamos vivos!
Caríssimo, sei que sabe que lhe sinto como parte da minha parte, e que,portanto, não consigo sorrir sem lamentar a dor que percebo por não lhe ter compartilhando meu regozijo. Não raras vezes foram, nem o serão, que substituí sua companhia para estar na dela; assim procedo e procedi porque sei que sabe e entende, mesmo que por hora impossibilitado de compreender pragmaticamente, o feitiço envolvente e desbaratinador de amar; essa necessidade insaciável de estar unido que sobrepõe-se a tudo, inclusive às mais profundas amizades, que só quando realmente verdadeiras são capazes de compreender. Sim caro, por isso coloco que a amizade é de todo infinita, pois sabe sua infinitude e alimenta-se, mais do que tudo, da felicidade do sempre querido conviva. Todavia, mesmo quando longe, sinto perto seus sentimentos mais profundos, os quais estavam longe de serem os mais deleitosos. Entretanto, após o inverno tempestuoso que passamos perto, agora vejo brilhar ao longe os primeiros raios de sol de uma inestimável primavera mais do que propícia para você alçar voo, o voo da águia, o voo da renovação. Um voo maravilhoso e único, somente possível para essa esplêndida ave de rapina detentora da mais profunda sabedoria, idólatra da liberdade e eterna amante da mais bela e ousada coragem. Vejo com muito prazer sua silhueta esmaecer obstinadamente no belíssimo horizonte do amar. E lhe desejo de toda sorte minhas melhores aspirações.
Não, meu velho, talvez não sejamos os últimos românticos, existem outros; mas talvez sejamos os últimos a cultivar a coragem de acovardar-nos perante a onipotência da força tão frágil do amor. Claro que amar não é como consta nos manuais folhetinescos, não nascemos dispostos, talvez predispostos, mas jamais, de pronto, aptos a amar. Não se ama sozinho, amar sem ser amado é flerte, e flerte é sedução; sedução, por sua vez, nada mais é do que o escape discreto e dissimulado de uma perversão intrínseca, quase sem emoção. Seduzir uma mulher é uma diversão agradabilíssima, é verdade que muitas vezes faz-se uma pratica pouco altiva, mas, ainda assim, podemos entreter-nos noites a fio a praticá-la. Mas lhe pergunto, áureo irmão, de tudo, o que fica, senão rememorações frias, estáticas e levianos blefes varonis? Se me permite, digo que mais acertadamente complementaria sua ideia da seguinte forma: sim, algo fica, fica o vazio sedento por complemento. E, diferentemente de antes,esse vazio não é preenchido com a companhia da solidão, mas somente com o calor de uma alma complementar , de um coração, de sentimentos, de pensamentos, de carinhos e, até, de ingênuos aborrecimentos. Características essas tipicamente humanas, assim como, de fato,enfim, sentimo-nos: humanos! Mas, caro amigo, infelizmente dessa vez o mérito não se restringe somente aos nossos feitos ou ao poder de nosso falo, o fator desencadeador esteve por todo esse tempo fora dos nossos domínios físicos, mas agora,finalmente, está, também, perante ti. Consigo perceber e identificar-me com seus atos inseguros, pueris, quase beirando a inocência. Sim, amigo, retrocedemos a um tempo de pureza extrema no qual sentimentos e atos involuntários coordenam nosso comportamento, levam-nos àquilo que somos: heróis quixotescos em busca de objetivos idílicos fisicamente realizados nessa utopia praticável que é o amar. Sem dúvida, irmão, vá em frente, exacerbe seus mais íntimos sentimentos, aflore suas emoções, deixe-se chorar de alegria e de medo; amar é um sofrimento transcendental que nos coloca em contato com nosso alter-ego mais fidedigno: nós mesmos, sem máscaras, nem armaduras. Amar outrem é a maior demonstração de amor próprio. Ame amigo! Se seus pressentimentos apontam-lhe um norte, mesmo que sem uma bússola, acredite, você estará no caminho certo. E, sem dúvida, encontrará mais, muito mais do que um pote de ouro atrás do arco-íris. Encontrará exatamente o que em seus sonhos mais íntimos sempre procurou exasperadamente: uma íris a lhe focar, cobiçando beijar e lhe sussurrando, ao pé do ouvido, todos os segredos mais profundos do incondicional prazer de simplesmente amar.

segunda-feira, 22 de março de 2010

O Concerto

Consciência involuntária
Desregrada ao que condiz
Remetida à outrora hilária
Condição nos condões do chafariz

Canções desvirtuadas soam
Repetidos ecos a murmurar
Na escura rua voam
Os primeiros pásssaros a cantar

Malogradas conversas desregradas
Regadas à bebidas alcoolizantes
Levando o ser a ler escritas sagradas
Com o alcalóide visualmente latejante

Olhos hipnotizantes
Olhar admirado
O traje agora engomado
Pronto pro concerto delirante

domingo, 21 de março de 2010

Redundâncias Cíclicas de Mais do Mesmo de Novo Mais Uma Vez

Tem horas que as horas que passam, passam sem sentido, sem sentimentos, sem serem sentidas, sem nada. O pranto abafado nas profundezas do peito sorri de alegria por saber não ser sabido, não ser querido, mas ainda sim, ser soberano. O corpo convulsiona no anseio de emoções baratas que possam trazer de volta o desconhecimento de quem se é, procurando não encontrar nada que diga tudo sobre nós. Dispersões e derivações quaisquer que mostrem o mundo profuso [dos outros] contrastante com a nulidade do nosso. Seguimos em frente, rumo ao externo, rumo [aos outros], ansiosamente desesperados, tudo em busca de um desejo natimorto de esperança, perseverança ou de voltar a ser criança, um óvulo fecundo no útero de uma vida a mais qualquer. Um aborto da natureza, uma leveza na tristeza, uma proeza sem destreza. Ser tudo, por ser nada.
A tristeza não é triste, triste é estar feliz na desgraça anunciada de uma isolação na multidão. A falta de um abraço preenche o espaço que cinde a razão da emoção, a verdade da mentira, a pureza da imundície. Roupas alheias pelo chão e uma fragrância prendendo em teia no horizonte texturizado e colorífero uma visão atemporal, beirando o irracional por insistir em querer ser tão ambivalente, tão normal e tão habitual.
Ciclos intermináveis, não querendo mais girar no mesmo lugar, sempre no mesmo e para o mesmo lugar, sem parar, sem parar, continuando a girar, a girar, a girar e voltar, de novo, àquele mesmo lugar, de novo, sem parar, sempre a girar no mesmo lugar – chega, por favor, quero descansar... Auscultar o silencio, silenciar o coração, encontrar a completude na mais simples atitude de ser não ser. Estar à parte das emoções, distante das tentações e cada vez mais perto de onde se esconde a imensidão de um oceano sem pretensões.

sexta-feira, 19 de março de 2010

A pós-criança

Vejo o rosto da criança

Que brinca de ser adulta

Dança na sua jovialidade

Gira, gira pela sala

Gira, gira pelo mundo

O mundo girou

Ela cresceu

Ainda percebo traços atuais

na sua figura adolescente

Ela cresceu agora já não gira pela sala

Agora ela vive a procurar as novas festas

Em todos os lugares

O mundo movimenta-se

Ela se movimenta

Ao som das ondas mecânicas

Ao despertar de novas freqüências

Despida dos pudores juvenis

Agora ela está sozinha

Perdida na conseqüência imagética

Da nuvem de incertezas que paira na sua

Temática alegoria de pensamentos pueris

o desconhecido


Ela procurou outro destino

Talvez perdeu o tino, fosse um desatino?

Ela está no velho mundo, com novas pessoas

A velha forma de viver agora é recente, lá se exporta modelitos sociais

A antígona que sobrevive aos prédios de solidão

Isolação que assola o semblante mergulhado na imensidão

De repente o quarto pequeno se fez imenso...a cama vazia, pratos e talheres a menos

Menos roupas...muitas roupas

Menos gente... mas há culpas?

O que pode ficar é o cheiro

Um perfume esquecido

150 ml do seu cheiro, uma essência de teu corpo

Agora ela habita outro país, outra cultura outra raiz

Agora ela fica do outro lado, com pessoas que se tornaram próximas

As mesmas pessoas que deixaram outras criaturas com cicatrizes

Imagens que vem

Pensamentos que vão

Ideais porém

De um destino vilão

Um desvario no clarão

Um desânimo na escuridão

Fora ou perto

Longe ou em casa

Cada fato é obsoleto

Cada sentido é um trejeito

De modo a chafurdar alguma coisa no meu peito...

De modo a chafurdar alguma coisa no meu peito...

O desconhecido

Ela foi atrás do desconhecido

Ela encontrou o desconhecido

Ela encontrou um desconhecido

quinta-feira, 11 de março de 2010

Quem É Você?


Existem momentos na vida em que viver já não é mais o objetivo objetivado, mas sim esquecer-se de que se está vivo e do que se viveu e se morreu até aqui. Entretanto, enquanto o coração ainda continuar a pulsar e o sangue a correr nas veias, a covarde pulsão de morte não adentrará a consciência. Então, nos deparamos com um rosto estranho no espelho de um banheiro qualquer: um rosto embriagado, entorpecido e decaído. Já não é mais belo, jovial, inocente, apenas descrente do futuro e do presente. Escondendo-nos em lapsos da consciência, apesar de ainda continuarmos substancial e fisiologicamente vivos, não estamos conscientes para perceber. Aliás, vivendo guiados pela subconsciência, a percepção de tudo e de todos é amena e intensa como um devaneio desvairado, colorido e altamente odorífero. A contradição nasce quando nos percebemos mais vivos e presentes do que, de fato, buscávamos estar. Mas, infelizmente, estamos em um presente que não nos presenteia com a dádiva da completude e da harmonia contínua. Estamos inquietos por insistirmos em sermos o que não somos e o que tememos nunca conseguir ser. A busca da vida intensa é a morte transvestida com uma capa de um anseio de liberdade infantil. Nesse tortuoso e infrutífero caminho de busca de nós mesmos, afastamo-nos cada vez mais daquilo que procuramos sem nem ao menos saber o que é. Estar livre é uma prisão arbitrária, inescrupulosa e com muitos requintes de crueldade. A identidade que nos prende e aprisiona em um nome, em uma vida, em sonhos, medos, forças, fraquezas, defeitos e qualidades não é um muro a ser derrubado ou transposto; mas um porto seguro para sempre ancorar e usar como ponto de partida para novas empreitadas pelos revoltos oceanos pacíficos da vida. Quando se nega ou se manipula quem somos, chegamos ao cúmulo da solidão, ao ápice da tristeza, ao abismo que separa o peso e a leveza. Quando nos deparamos com a voz e com os desejos de um desconhecido dentro de nossas mentes, nos percebemos esquecidos dentro de nós mesmos, perdidos em um universo hostil, comprimidos entre a verdade e a mentira, sufocados por todos os mundos desbravados por todos os nós que passaram a habitar essa bolha de ilusões que se tornou o nosso peito amargo. Aquele amigo que nos virou as costas quando acreditávamos mais precisar, ou que com rudes palavras nos fez chorar, talvez não tenha sido um inimigo a combater, pois estender a mão não é apenas um ato de ajuda, mas de aceitação, cumplicidade e aprovação. Ter uma mão estendida àquela entidade que se apoderou de nossa alma e mente é um apoio para galgar degraus rumo ao âmago do inferno existencial e vazio absoluto que nos depararemos quando chegarmos ao mais profundo de uma alma sem paz, sem identidade e sem um abraço que esquente o coração com o amor fraterno da compreensão de quem - por dentro da casca - ainda somos. Se aquele no espelho já não consegue mais sorrir e sentir a alma alegrar-se, é porque entre os olhos vidrados no espelho e o espírito depredado existe uma barreira esquizofrênica e intransponível que segrega violentamente quem não somos de quem não queremos ser. Esse conflito entre os dois que não somos gera quem passamos a ser: um subconsciente inane, um corpo sem sentido que como única meta tem o flutuante e sempre distante objetivo de recuperar-se, definitivamente, do cada vez mais constante torpor. Viver entre a euforia e a depressão não é a liberdade da vida, mas a morte lenta e constante do ser pujante que um dia transbordou dos olhos de quem, um pouco mais a cada dia, menos conseguimos sentir dentro de nosso imo.

Não destrua o que já não resta mais do que você nunca foi; não cubra a vida com a morte. Entre ser quem não se é, e não ser nada, é preferível não ser nada. Todos os caminhos que nos guiam rumo ao infinito sempre são caminhos passíveis de serem trilhados de maneira amena, correta e harmoniosa. Podemos iniciar uma nova jornada a cada manhã, com pequenos passos rumo a uma pequena tranqüilidade e, assim, pouco a pouco, distanciarmo-nos de uma ficção delirante, que só se torna confortante quando se está no cume da despersonalização, e, dessa forma, dissolvendo no vazio toda possibilidade de lembranças verdadeiramente aprazíveis e reconfortantes, dignas de serem rememoradas e enunciadas pelos intermináveis ciclos da vida eterna e perecível.

A salvação não está no mundo, mas no mudo olhar de quem consegue ver tudo mudar sem perder a paz de sempre estar como um todo no mesmo lugar.