quarta-feira, 23 de maio de 2012

Niilismo


Nas ruas de uma noite eterna se misturam presente, passado e futuro. Alegorias vaticinam o além. Entre lágrimas e lamentos, escorrem presentimentos presentidos na escuridão de um desalento. Do desamparo decaído, um bordão faz eco à solidão de um grito retraído. Se o destino se fez algoz, o acaso acalenta a atroz agonia. De mãos dadas, ilusão e nostalgia amaldiçoam o pretérito quase-perfeito. A débil perseverança amordaça a razão. Fac-símile do absurdo, a existência transveste-se de nonsense. O ponto alto da tragédia é a consciência do existir nu, despido de qualquer cobertor. Sísifo, sua rocha e seu penedo. A verdade da pedra antagoniza o obscurantismo do peito. Voltar para trás, descer para baixo. O pleonasmo ratificador aponta a inconteste direção da decadência. Na ausência do reflexo, o espelho e sua mentira esfacelam-se. Dos cacos reluzentes, mil imagens reverberam as trevas que pululam dos poros e inundam alma. Demasiadamente humano para assentir a condição de ser livre, liberto, solto, isolado. Desconstrução, desmistificação, destruição. Caminhos a caminhar, nados a nadar. Nada.