domingo, 2 de maio de 2010

Quantos Eus Sou Eu?

Sou a identidade do desconhecido.
A aberração do inacreditável. A difusão da essência. Sou malévolo, sou benevolente. Sou arrogante, sarcástico, irônico, vingativo. Sou um humano perfeitamente imperfeito, indiscritivelmente complexo, simplesmente incompreensível. Não tenho credo, etnia ou partido político. Sou absolutamente contra o absolutismo, afinal, nada é eterno, nem o nada ser eterno é eterno. Minha mente traça os caminhos mais sórdidos que a humanidade nunca ousou desbravar. Sou obsceno, não gosto de cenas pacatas, pessoas comuns, ambientes triviais, pensamentos óbivos, conceitos eloquentes, vidas civilizadas, pensamentos arcaicos, ordem pública, sexo seguro, cara limpa. Quero revolução; beber o sangue que jorra das entranhas dos meus inimigos, em um almoço, à beira do lixo que brota pútrido das residências mais abonadas dessa sociedade que condena o racismo, homossexualismo, corrupção, violência e todas as outras formas de instinto predatório selvagem XXI. Sou racista, homofóbico, xenófobo, ateu, anti-comunista, anti-nazista, anti-judeu, anti-anarquista, anti-punk, principalmente anti-hipócrita e provávelmente anti-você. Liberdade ao culto, liberdade às drogas, liberdade sexual e urgentemente liberdade intelectual. Estou cansado de discursos moralizantes, morais imorais, mães jurássicas. Quero prender-ma à liberdade, flutuar ao infinito. Viver, matar, ser o que não sou. Não tenho classe, gênero ou número. Sou, sempre fui, nunca serei ela ou ele. Sou único, sou infinito, exclusivo; não tenho definição, tribo, grupo, meio, vínculo. Sou eu e isso basta. Basta, mas não é o bastante. Sou sábio, sempre soube que o dom do saber é não saber. Respeito os animais, amo-os com o amor de uma mãe superprotetora. Acredito no amor e no fim desse mundo. Quero ver de camarote a dor nos olhos daqueles que hoje menosprezam a verdade e oprimem o intelecto. Inescrupolosos formadores de aliendados, componentes vitais a essa engrenagem que é a máquina desse mundo nem um pouco transcendental. Repudio os políticos e os desertores, ambos covardes munidos com discursos trabalhados em palanques da mentira. A covardia é a coragem, a morte uma solução, o suicídio uma opção. Mundo canibalista, terra de selvagens alfabetizados e burgueses doutrinados. Estereótipos ambulantes: adolescentes com maconha nos neurônios, álcool no fígado, volante nas mãos, celulares nos bolsos e ingnorância no cérebro. Um exército de diferentes, todos iguais. Um cliché americano ou um apelo comunista. Sigo meu caminho pela tangente desse círculo viciado, trilhas desmatadas, segredos revelados, surpresas conhecidas, emoções tediosas, drogas experimentadas, viagens com hora marcada, propagandas enganosas, libertinagens ingênuas, revolucionários sem ideologia, riscos seguros. Sou o paradoxo. Vivo paralelo ao simples. Sou imiscível ao comum. Nenhuma doutrina me corrompe, nenhum caminho me seduz. Nenhum temor me espanta, nenhum obstáculo me retarda. Nenhuma massa me vence, nenhum vencedor me derrota. Esse sou eu, esse é meu mundo. Com o céu límpido anil, em um fim de tarde de primavera, desfruto, da sacada do meu apartamento, a libido dessas cenas que ocorrem no circo da vida que é este mundo cão. Sou eu, sou assim. Livre para pensar. Carpe Diem!