quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Imensidão Aprisionada

O sabor doce da tua boca é um amargo de lembranças que trago dentro do peito. O calor do teu corpo bate frio, queima minha alma quando vejo-te engrenhada em outro leito. Quis de dois ser um, naveguei por mares revoltos de uma alma quase pura que incendiou minha loucura. Entre delírios e alquimias transformei teu corpo em pó de ouro tingido com lágrimas de fel e devaneios de alegrias. O que era exato se fez paradoxo. Quase de propósito, espalhei o que era teu pelo chão, deitei-me sobre tua roupa, lembrando da realidade seminua dos teus olhos, em parte, só meus.Quisera meu ego não te querer eternamente, desde o início até o fim, inteiramente toda só para mim. Ter-te em uma memória fantasiada nos braços de outrem fere sonhos lacerados que ontem criei para viver a realidade que imaginei. A queda que derruba utopias idealizadas coloca a realidade diante de toda a sua ingenuidade. Quiçá quisera eu ser inteiramente teu, mas só se pode ter posse da propriedade que é limitada ao espaço do previsível. Oh ego demasiado mesquinho e diminuto gigante, a verdade que te feres é a contundência sólida de saber-te sozinho nos reflexos incertos da redundância desse fascínio parcial, quase real. Se não és musa perfeita é porque perfeita não serias se fosses simples assim. O sangue que senti sangrar não era de ti, era de mim. O tempo cura, o tempo curará. Em um novo plano vou desenhar-te, com todos os pontos de fuga que não me fugirem da mera habilidade de criar. Se fostes de alguém antes de mim, é porque não serias toda minha se não fosse assim.

Perdi a hora, o tempo passou, o trem partiu, a vez não chegou. O espelho que translúcido ludibria minha razão confunde sentidos e sentimentos de um par de sorrisos de meia emoção. Quanta tentação chorar em torrente, num desespero sôfrego de fugir dessa corrente que aprisiona todo o meu espírito ao cheiro da tua pele e ao gosto do teu corpo de serpente.