terça-feira, 24 de março de 2009

A Busca de Uma Alma....

Que sonho lindo a utopia de se encontrar a alma gêmea! A metade faltante de si, simetricamente perfeita; nem obtusa, nem aguda de mais. Um alter-ego infinitamente igual, infinitamente seu, infinitamente infinito. Um simples ser que jamais irá lhe fazer chorar, tampouco magoar-lhe; um ser tão sublime que os anos passarão tão simples e suaves como se fossem segundos de um sono profundo à beira mar. Uma relação completa, sem desavenças, sem retóricas, sem discussões, sem nada senão plenitude e harmonia. Movimentos e pensamentos sincronizados, automáticos e naturais. Uma paridade ímpar, inigualável. Platônico assim. Simplesmente simples. Essa metade existe? Ah sim, existe! E está vagando por aí, entre 6,5 bilhões menos um - considerando-se todas as opções; basta encontrar.

Você nasce, procura, encontra, e pronto, seriam felizes para sempre – sim, futuro do pretérito, sim –, pois, até você encontrar essa agulha de ouro nesse palheiro, muitas agulhas fajutas, enferrujadas e muito nocivas irão lhe ferir as mãos. Afinal, você não a conhece. Poderia deixá-la escapar se não fizesse uma busca minuciosa. E, afinal, o que são alguns ferimentos em prol da realização completa, de um amor capaz de curar tudo?

Infelizmente, os sorrisos inocentes que você tem para dar – aqueles que você dá ao ver aquela que sua infantilidade acredita ser sua metade extraviada acordar –, ou os suspiros de saudade quando se passam 20 minutos de afastamento, ou a pura alegria de sentir o cheiro dela... infelizmente...infelizmente tudo isso é quantificado. Existe um número máximo de sorrisos, de suspiros, de dias infinitamente alegres... de tudo! Por ironia do destino, tudo é quantificado; inclusive quantas vezes o seu coração frágil e puro irá bater. Essa é a matemática que decide pela vida, pela morte e também pelo amor.

Mas quando finalmente, finalmente, finalmente, sua alma gêmea aparecer, sentada ao seu lado, olhando para você, lhe chamando, conversando com você; indiretamente lhe gritando: “ei, eu realmente sou a sua alma gêmea! Acredite só mais esta vez!”, então, aí já será tarde. Você não terá mais os sorrisos para dar, nem suspiros , nem alegria, nem nada. Tudo o que você havia semeado e cultivado terá apodrecido. Seu coração ainda baterá... ah sim, ele baterá, e muito – ele nunca aprende –, mas não do mesmo jeito; desta vez ele terá uma carapaça envolvendo-o, uma armadura intransponível. Ele saberá que o mundo é mau, e que não se pode confiar em estranhos.

Então é isso, sua alma gêmea, apesar de ser gêmea, não lhe reconhecerá mais, acreditará ter se enganado novamente – como tantas vezes antes deve ter também se enganado – e irá embora, à procura de sua outra metade. E a cada passo que der em sua busca, um passo mais longe ficará da sua única e insubstituível metade. Mas desta vez será para sempre; um raio e uma alma nunca caem duas vezes no mesmo lugar. E você e seu coração, ficarão ali, sentados no banco de um jardim, olhando-a partir, receando mais cortes e ferimentos de pseudo-amores. Mas desta vez, o amor não era pseudo, e a agulha não estava enferrujada, mas será tarde; ela já terá partido. Partido para sempre...

O que fica de lição é: não desperdice a sua alegria, a sua felicidade e o seu amor. Não exponha seu coração: ele é frágil, não importa em qual tórax se encontre; ele sempre será frágil e sensível. Não tente polir as agulhas enferrujadas, pois, por mais que você lustre, agulhas de ferro jamais serão de ouro. Sua alma gêmea é a fechadura do seu coração, se a chave não encaixar, não force; vá em busca de outra. Se suspeitar estar batendo em porta errada, com certeza estará; uma alma gêmea não deixa dúvida quanto a sua veracidade. Não desista, procure a sua; saberá quando a tiver encontrado. Mas como toda utopia, talvez nunca a encontre; mas, pelo sim e pelo não, não viva momentos idílicos em um filme de terror.

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