sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O Volátil Cheiro do Amar

O amor é volátil, assim como o cheiro se dispersa pelo ar, pelas escadas, salas e dormitórios. Quando sentimos nossas roupas, pelos e pele embebidos no cheiro da pessoa amada é como se a presença ausente já não fosse mais solidão, mas uma perpétua união de saudade. A imaterialidade contundente do cheiro é o par análogo perfeito do amor. Não precisamos ter a pessoa para senti-la; não precisamos tocar suas curvas e boca para sorvermos o prazer indizível da completude lacerada. E o mais importante, não podemos de toda verdade afirmar não estarmos em sua presença, pois o cheiro é a extensão concreta e palpável do corpo. Cada fragrância é uma impressão digital marcada na tez, que lava consigo mais do que o espírito memorável do ser amado, mas traz o corpo denso, único e capaz de pegar-nos pela mão e levar-nos a um passeio, a um jantar ou a um delírio idílico de um amor dionisíaco. Só quem ama sabe.
Ter em seu corpo o cheiro da pessoa amada é ter sobre seu corpo o corpo despido do seu amor. Sem roupas e sem máscaras, apenas, e mais do que tudo, em sua essência pura e imaculada. Essa presença volátil que domina sem prender faz-se onipresente, adentra as narinas e instala-se na alma, no âmago de um coração apaixonado que com sublime paixão sublima o amor, eleva o espírito, transcende o corpo e encontra o infinito no segredo desvendado do amar.

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