Assistir o filme “O peregrino” de Celso Marques é
relembrar as empíricas e engraçadíssimas montagens da trupe Hermes e Renato da MTV.
A
modalidade trash, produzida pela
trupe, trazia improvisos e cenas impagáveis de humor. Uma idéia na cabeça e uma
câmera na mão é o que bastava para esse pessoal. Não se fazia objeção no
aspecto do improviso, não havia limites. Celso Marques, no seu particular
processo autoral, desconhecendo essa técnica de fazer vídeo e cinema, obtem
resultados similares.
A
história começa com um senhor em farrapos, mais precisamente um mendigo, que
toca um violão de aço desafianadamente perturbador. Esse sujeito, um senhor,
chamado Moisés de idade avançada, perturbado com o sucesso de ser cantor que
não chega, sai de casa e não retorna mais, deixando mulher e filhos. A cena
ganha fôlego com a entrada de Celso Marques, que interpreta irmão que procura
consolar Moisés que está entregue a bebida, mendicância e venda de sucatas
recolhidas na rua.
Em seus
devaneios etílicos, Moisés encontra-se na usina velha, ruinas de uma antiga
usina de Dourados, cartão postal. Nesse local abandonado, Moisés depara-se com
uma senhora peculiar, aparentando bem vividos 70 anos, com roupas ciganas,
intitulando-se a “guardiã da Usina velha”.
A
“guardiã” fornece agua em uma bandeija para o esfarrapado cantor e em seguida
faz uma benzedura estranha e bem humorada.
Após
essa benção, Moisés amarrado, surrado e lavado com uma vassoura. - Tentativa
desesperada do irmão de salvar o desencaminhado.
O aspirante a cantor é trancado em um quarto escuro,
com janelas sem vidros, comendo apenas uma vez por dia durante oito meses. Não
aguentando mais ficar sob tais condições subhumanas, promete ao irmão que não
irá mais catar sucatas na rua, gastar todo o dinheiro em cachaça ou vadiar.
Na
trama, o futuro cantor só era permitido sair do cativeiro amarrado como um
cachorro pelo irmão (cenas hilariantes).
Por
sugestão do ator que interpretava Moisés tem-se cenas eclesiásticas e conversas
tediosas de padres que ganham um tom sarcático na trama intuitiva de Celso
Marques.
Além de
ser uma referência e registro histórico do município de Dourados, Celso Marques
faz a sua literatura possível. Celso, que segundo o próprio, não tem
escolaridade mínima para escrever um livro, publicou dois. Com filmes não é
diferente, Celso deseja e realiza.
A soma
dessa vontade de participar no seu tempo, acreditar na sua arte e executa-la,
faz Celso Marques ser a futura referência trash
da cinematografia sulmatogrossence. Cinematografia desse diretor, produtor e
distribuidor que tem a soma sete longas-metragens.
Celso
Marques normalmente vende seus filmes nos moldes cordelista, outras vezes, expoe
seus filmes e vende os DVDs a preços acessíveis (atualmente R$10,00).
“O
peregrino” garantiu boas risadas no cineclube de Dourados.
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