sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Cesare Battisti


Cesare Battisti - por Mino Carta
Sempre me encantou uma frase de Samuel Johnson: a pátria é o último refúgio dos canalhas. Verifico que também pode ser dos desinformados. A decisão não é da Justiça, e sim do ministro da Justiça. Contra o asilo tinham se manifestado o Conare, órgão competente, no caso, e o Itamaraty. Cacciola não foi extraditado pela Itália por ser cidadão italiano, assim como Biggs, o ladrão inglês, não foi extraditado pelo Brasil por ser pai de brasileiro. Quando caducou a chamada doutrina Mitterrand, que dava asilo até a terroristas condenados por sentença passada em julgado, a França decidiu extraditar Battisti e por isso ele fugiu para o Brasil. Depois de anunciada a decisão do ministro Genro, o presidente não poderia dizer senão aquilo que disse na noite da quinta-feira passada. Outro ponto em que os desinformados naufragam diz respeito à situação política da Itália. Por obra e graça das manobras organizadas no Brasil pelos defensores de Battisti, espalhou-se a convicção de que a extradição foi solicitada pelo governo direitista de Silvio Berlusconi. Nada disso, o pedido partiu do governo anterior, de centro-esquerda. O terrorismo, desde seus começos, foi condenado pelo Partido Comunista e hoje seus herdeiros tomam enérgica posição contra a decisão do Brasil. Mais uma questão. A soberania da Itália não vale nem mais, nem menos que a do Brasil. Mas a afronta ao Estado italiano e à sua Justiça é evidente. O ministro Genro arroga-se o direito, em lance de inaudita prepotência, e diria também de ignorância, de contestar uma sentença em julgado na Itália. Que diriam nossos patriotas se um ministro italiano se dispusesse a discutir a condenação de um cidadão brasileiro por um tribunal brasileiro? Inacreditável. Genro conseguiu, porém, ir além, na esteira, aliás, do professor Dalmo Dallari, ao afirmar que devolvido à Itália, Battisti correria até perigo de vida. A Itália não é Darfur, é uma democracia de primeira linha, com uma Constituição que é a mais longeva da Europa continental. E o Estado italiano sabe como proteger seus encarcerados. E que diriam os patriotas se o ministro da Justiça da Itália negasse a extradição do tal cidadão brasileiro condenado pela Justiça brasileira e refugiado na península, ao alegar que o mesmo correria perigo de vida em um cárcere brasileiro? O assunto ainda vai dar pano para a manga, no entanto, este é meu esclarecimento definitivo aos patriotas e aos desinformados. Ambas as categorias deixam-se manipular, o que não me causa maior surpresa. Dá canseira, porém.

Faço as palavras de Mino Carta, minhas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário