sábado, 24 de janeiro de 2009

Onde Acaba O Que Começa


Existe um mundo dentro de mim. Existem pensamentos ao meu redor. Existe um enorme buraco sobre minha cabeça. Existe uma solidão em que o silêncio sufoca meus tímpanos e cega minhas narinas. Existe um barulho insuportável vindo de dentro do meu peito; é a angústia que explode para fora dos meus poros; é o medo que apavora minha coragem.
Sinto-me cada vez mais feliz por estar tão distante da realidade e cada vez mais próximo da tristeza, dos prantos da madrugada.
Tenho medo quando a noite chega, pois com ela a solidão. Tenho medo quando ando só abaixo da lua. Adoro a euforia da morte; suplico o cheiro das flores sobre meu corpo.
Não existe mais um conjunto, existe uma única parte do quebra-cabeça. Quero voar para apagar o fogo do meu coração. A liberdade me espera por de trás das grades que me aprisionam.
Posso correr, posso flutuar no mar; agora estou só, não existe mais o impossível. Meus olhos só vêem o que minha mente traça. Meu caminho é longo, meus passos também. A morte não existe, é a vida que acaba.
Meus olhos sangram, meu sangue fervilha, minha vida é eterna, minha morte me acompanha.
Quero a insanidade sempre ao meu lado; minha melhor amiga, a única que me entende. Quero música urgente nos meus ouvidos. O som me maltrata, não quero sofrer. Sou sarcástico,
masoquista. Sua face me causa ira; ótimo! Adoro pecar. Quero ver-te em flores mortas.
Não penso, não reflito, sou apenas um instrumento da sociedade, aprendi a repetir estrofes, refrões de músicas e poesias que de beleza somente o poder de manterem olhos e ouvidos atentos à espera de uma palavra de sabedoria.
Sou triste, sou alegre, sou sábio, sou tudo, sou nada. Neste momento, em que me encontro comigo mesmo, não encontro nada. Nesta hora, em que só existe o não existir, minhas mágoas não têm fim, e meu fim não sei quando começou. Quero viver aqui dentro, dentro de mim. Colocar flores amarelas nos vasos e perfume nas paredes. A cortina negra que cobre minha alma quando eu não estou é espessa, não quero tirá-la; ela impede que a luz de fora ofusque meus olhos ao ver quem realmente sou.
Meus pensamentos ludibriam minha paciência. Sinto-me melhor em agora saber que sou feliz; minha infelicidade compõem meu talento de ser alegre. Minha melancolia conforta meu ego. Preciso de mim, preciso de todos, mas principalmente não preciso de ninguém para ser quem eu sou.

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